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Por que é que a NASA está tão interessada na pequena localidade alentejana de Cabeço de Vide?

18-ABR-2019

Por que é que a NASA está tão interessada na pequena localidade alentejana de Cabeço de Vide?

Em Cabeço de Vide, freguesia alentejana do concelho de Fronteira, as cerca de mil pessoas que vivem na vila já estão habituadas a ver investigadores, portugueses e estrangeiros, andarem cá e lá com complicados aparelhos de análise e medição. E, na verdade, sentem-se orgulhosos pela atenção dispensada ao património local.

As propriedades terapêuticas das águas minerais naturais da zona são conhecidas e usadas há centenas de anos mas, em 2000, o então diretor técnico das Termas da Sulfúrea solicitou ao Instituto Superior Técnico (IST) um estudo para melhor as conhecer e preservar.

E foi então que as águas captadas na nascente Ermida das termas começaram a despertar maior atenção de cada vez mais investigadores de outras universidades portuguesas e internacionais (Itália, Japão, EUA), e a NASA se deslocou a Portugal para fazer testes.

Na origem deste interesse não estão apenas as propriedades terapêuticas mas antes, e sobretudo, o sistema geológico e hidrogeológico em si. “É raro no mundo, por isso desperta a curiosidade da comunidade científica no sentido de se estudarem os processos de interação água-rocha e da atividade microbiana existente nestes ambientes extremos, de pH tão elevado, no caso de 11,5”, explica a investigadora Carla Rocha, atualmente a fazer doutoramento sobre estes sistemas no Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA) e C2TN – Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares do IST, com bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Na origem de todo este interesse e de tantos estudos académicos está um processo geoquímico chamado serpentinização, que acontece quando uma rocha rica em magnésio e ferro é convertida em minerais de argila do grupo das serpentinas. Juntamente com o pH elevado, este processo produz hidrogénio que, por sua vez, pode conduzir à formação de microrganismos, ou seja, gerar vida.

E é por isso que a National Aeronautics and Space Administration (NASA) é um dos organismos tão interessados nesta pequena localidade alentejana. “Estamos muito entusiasmados com a serpentinização ativa que acontece em Cabeço de Vide”, conta à “Notícias Magazine” o astrobiólogo e geofísico Steve Vance.

“Estamos muito entusiasmados com a serpentinização ativa que acontece em Cabeço de Vide” (Steve Vance, astrobiólogo e geofísico)

O investigador do Jet Propulsion Laboratory da NASA esclarece que o hidrogénio produzido em Cabeço de Vide pode suportar microrganismos sem a necessidade de energia solar. “E isso é empolgante para a NASA, porque achamos que pode haver água líquida sob a superfície seca e empoeirada de Marte e sabemos que há água líquida sob as superfícies geladas das luas de Júpiter (Europa, Ganimedes e Calisto) e também nas luas de Saturno (Encélado e Titã). Se a serpentinização acontece nesses lugares, talvez possamos finalmente encontrar lá vida.”

À semelhança de The Cedars, na Califórnia, Cabeço de Vide é considerado “um laboratório natural porque tem um ambiente hidrogeológico e uma interação água-rocha que poderá ser em tudo semelhante à que ocorreu ou que decorre atualmente no planeta Marte”, concorda Carla Rocha, cuja tese de doutoramento se intitula “Cabeço de Vide (Portugal) mineral water as a possible analogue to Mars: a water-rock interaction approach”.

Estes estudos, de acordo com a investigadora, “podem vir a ser de grande importância para perceber qual o tipo de microrganismos que se poderão ter desenvolvido ou que se poderão estar a desenvolver em Marte”.

Cabeço de Vide é considerado “um laboratório natural porque tem um ambiente hidrogeológico e uma interação água-rocha que poderá ser em tudo semelhante à que ocorreu ou que decorre atualmente no planeta Marte” (Carla Rocha, investigadora)

As respostas para as grandes perguntas da Humanidade podem estar escondidas em todo o lado. Até (ou sobretudo) em Cabeço de Vide.

Uma água que faz bem à saúde
A água de Cabeço de Vide não está indicada para beber, salvo em pequenas quantidades e apenas por indicação médica, já que tem um pH de 11,5 e o limite para consumo humano situa-se nos 9,5. Tem, no entanto, propriedades terapêuticas – sobretudo associadas aos elevados níveis de enxofre – que resultam da sua interação com a pele e o sistema respiratório, e das quais é possível usufruir nas Termas da Sulfúrea, em Cabeço de Vide.

As suas indicações terapêuticas são, de acordo com os médicos hidrologistas e o site das Termas de Portugal, três: doenças crónicas e alérgicas das vias respiratórias superiores e inferiores, como a asma, sobretudo em crianças; patologias osteoarticulares e reumatismais crónicas, como as osteoartroses; e em doenças crónicas ou alérgicas de pele, como a psoríase ou o eczema.


Texto de Sofia Teixeira 

Foto: Jorge Amaral/Global Imagens

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